* Keep going down for english! =)
A chegada na Índia foi quente! Mesmo vindo de lugares
quentes, o calor em Kolkata estava quase insuportável. Nós pegamos um taxi sem
ar condicionado, depois um metro sem ar condicionado, depois uma bicicleta
(única opção) até a casa do Rohan.
Nós conhecemos o Rohan pelo couchsurfing e ficar na casa com a família dele foi uma experiência
excepcional! Foi a introdução perfeita para um país tão único quanto a Índia.
Nós realmente nos sentimos parte da família durante os cinco dias que ficamos
lá. Como é bom ter este tipo de apoio quando chegamos em um lugar novo! Nós nos
sentimos muito sortudos de conhecer pessoas como o Rohan e sua família.
Não podemos dizer que a Índia não foi uma mudança brusca,
principalmente vindo da calmaria que é a Tailândia. É difícil não notar a
quantidade infindável de pessoas e o enorme barulho das ruas. Isso foi
realmente diferente de tudo o que já vimos na nossa vida! Podíamos andar com a
câmera no pescoço, porque a cada cinco minutos víamos algo que nunca tínhamos visto
antes. Muitas vacas, uma reunião de cerca de 100 bodes andando pelas ruas, pessoas
tomando banho na calcada ou fazendo a barba. A pobreza é grande. Uma menininha
pegou a minha mão um dia e falou: dinheiro, dinheiro! Eu disse: não tenho dinheiro!
Ela disse: sim, tem dinheiro! 500 rúpias! Eu só ri. E as pessoas te encaram a
todo o momento, o que, apesar de desconfortável, não é feito por mal, trata-se
apenas de um costume, afinal nossa aparência é diferente da deles.
Mas a criminalidade do país é baixa comparada com muitos
outros, incluindo o Brasil. Isso nos faz sentir seguros, o que é ótimo. E
sempre que nós precisamos de ajuda ou alguma informação, as pessoas nos
ajudaram, sem sorriso no rosto, mas com intenção de ajudar. O Rohan nos contou
que um dos motivos pelos quais você se sente seguro é o próprio tamanho da
população. Se acontece um crime, sempre tem alguém que vai ver e as pessoas
protegem umas às outras quando é necessário. E eles não tem medo de comprar
brigas, o que pode ser bom nestes casos.
Mas depois de alguns dias nós entendemos um pouco porque
eles não são tão sorridentes. Por ter muita gente, em alguns momentos você
precisa garantir o seu lugar. Se não falar nada, as pessoas entrarão na sua
frente em filas de banco, restaurantes e trens. É preciso ser firme. Em muitos
lugares isto seria falta de educação, aqui é apenas normal.
Para fugir do calor, nós seguimos
para as montanhas próximas aos himalayas.
Ficamos cinco dias em Darjeeling, uma cidade cercada por montanhas de onde
pode-se avistar o terceiro mais alto pico do mundo. Eu só sei disso porque me
disseram, nós estávamos dentro de uma nuvem durante todo o tempo que passamos
lá. A mudança brusca de temperatura (de 42 para 20 celsius) me deixou bem
doente, pela primeira vez nos últimos 3 anos, então não fizemos muito. O lugar
era bem bonito, mas a população ainda era muito grande para seu tamanho, o que
o deixava muito sujo e barulhento.
Nós seguimos então para Begha, onde
seríamos voluntários na escola Sunrise Academy por 20 dias. Para chegar lá pegamos três
diferentes jipes, o trajeto inteiro levou 9 horas, incluindo as 3 horas de
espera nas conexões. Na chegada já estava escuro, estávamos cansados e chovia
muito. Foi quando o filho da família com a qual ficaríamos hospedados nos guiou
por uma trilha de cerca de 15 minutos até a sua casa. Algumas sanguessugas
grudaram nas nossas roupas. Mas finalmente chegamos, encharcados, em uma casa
bem simples. A mãe cozinhava agachada em um fogão a lenha no chão e algumas
goteiras caíam. O banheiro era de se agachar e do lado de fora e o banho seria
de balde. Ainda encharcada e segurando uma sanguessuga em uma de minhas mãos
pelo lado de fora da minha calça, tudo que eu conseguia pensar era se
conseguiria sobreviver aquilo e se teriam jipes no dia seguinte para me levar
de volta.
Apenas algumas horas foram necessárias para me fazer mudar
de ideia completamente. A simplicidade, bondade e generosidade daquela família
tocaram fundo no meu coração. Acordamos com um dia ensolarado e um chá na cama.
O sol passava por uma pequena janela e iluminava o nosso pequeno quarto.
Trocamos de roupa e, pela primeira vez, conseguimos ver onde estávamos. Os
galos cantavam, as galinhas andavam com seus pintinhos ao redor da casa, as
vacas nos olhavam desconfiadas e as enormes montanhas ao redor brilhavam aos
primeiros raios de sol.
Nós fomos então para a escola pela primeira vez por uma
trilha pela montanha, cerca de 20 minutos para descer e 50 para subir. Pelo
caminho, as crianças faziam o mesmo trajeto com seus lindos uniformes e diziam
“Good morning Miss, good morning Sir”. Não só por falar, mas de fato olhando
para nós e esperando por uma resposta. Antes das aulas começarem eles fazem uma
formatura, onde as crianças ficam enfileiradas, fazem a oração da manhã e cantam
o hino nacional. Em seguida o diretor da escola nos apresentou como os novos
voluntários. Depois de muitos olhares curiosos, eles seguiram fileira por
fileira para as salas de aula.
Quando entramos em uma sala de aula, todos se levantam e
gritam “Good morning Miss, good morning Sir” e assim permaneceram até que nós demos
permissão para se sentarem. Suas idades variam de 3 à 13 anos, mas seus
comportamentos permanecem os mesmos. Nós nos apresentamos em algumas salas de
aula e abrimos as classes para perguntas, às quais ficamos respondendo nas
próximas horas. Eles perguntaram de tudo, o nome dos nossos pais e irmãos, a
nossa idade, curiosidades sobre o Brasil e até se o nosso relacionamento era
arranjado ou por amor! Anotaram tudo em um papel e pediram para assinarmos, com
uma dedicatória!
As aulas vão das 9:30 às 15:10, com meia hora de intervalo
para o almoço, onde as crianças brincam, os adultos se organizam para as
próximas aulas e só nós almoçamos! Eles fazem almoço para nós porque sabem que
estamos acostumados, mas eles comem somente pela manhã e no final da tarde.
Voltamos para casa cercados de crianças, cantarolando e fazendo perguntas. Eu
aproveitei o calor da subida para lavar o meu cabelo na água gelada da torneira
que fica no chão próxima ao nosso quarto. Para a janta eles fizeram um prato
tradicional chamado Momo, uma trouxinha de repolho muito gostosa. Não tinha
eletricidade, então a luz das velas deu um charme.
No dia seguinte o banho de balde pareceu bem mais fácil e
não tivemos mais tanto trabalho para usar o banheiro de se agachar. E mais uma
vez a gente descobre que as nossas necessidades não são tão grandes quanto
achamos. E como nos acostumamos fácil a novas situações, realmente incrível!
No estado de Sikkim (onde a comunidade de Begha é localizada)
o povo tem uma influência grande do Nepal. Até a aparência deles é diferente do
indiano. Apesar de aprenderem inglês e hindi desde cedo, a língua que eles
falam dentro de casa é nepalês e suas tradições e danças são também em sua
maioria nepalesas.
Respondemos muito mais perguntas de todos os tipos nos
próximos dias, o que mostra o quanto essas crianças dão valor ao diferente e adoram
aprender coisas novas! Tudo de diferente que vestimos, incluindo simples
brincos e relógios, eles querem tocar, sentir o cheiro! Tudo que sugerimos
fazer e perguntamos se eles gostam ou querem, eles dizem: “yes, Miss, yes Sir!”.
Eu tinha uns brinquinhos de passarinhos feitos de madeira que dei para todas as
meninas de uma turma, que ficaram olhando e beijando os passarinhos por horas!
Uma pena que não tinha para todas de todas as turmas. Nós contamos para os
nossos pais no Brasil e as respostas que recebemos foram as mesmas: “tadinhas”.
Mas aqui nós vemos o quanto este comportamento é fascinante. Essas meninas de
12 anos adoram passarinhos de madeira! Isso é lindo! Elas não são tadinhas, mas
sim sortudas por ainda darem valor à essas coisas. Elas adoram os passarinhos
de madeira, mas não precisam deles! Elas têm tudo o que precisam, educação,
comida na mesa, pais que as amam, uma montanha inteira cheia de árvores para
brincarem e uma inocência que não tem preço! Elas são muito bem educadas e
muito felizes! Isso é uma lição para nós!
Sikkim é um território de preservação ambiental, então
qualquer tipo de químico é proibido, o que faz com que toda a produção seja
orgânica. Aqui eles plantam o que comem e não têm geladeira, então tudo é
realmente fresco, comemos o que está na época! O quão incrível é isso? Para
eles é apenas normal.
A comida, na maioria das vezes, é vegetariana e uma
delícia!! Mas um dia nós resolvemos comprar uma caixa de cerveja local já que
os donos da casa que estamos morando adoram. Eles consideraram uma ocasião
especial e mataram uma galinha, no chuveiro! O jantar foi uma delícia! Nós
estamos gostando tanto de ficar aqui que nem conseguimos lembrar mais porque
estávamos assustados no começo!
Nós ganhamos inúmeros desenhos e flores dos todos os alunos
durante o período que ficamos aqui. Um deles até escreveu um conto simples
sobre eu e o Pedro, o que foi engraçado.
Como notamos que a trilha que nos leva até a escola era bem
suja, nós organizamos uma peça com fantoches sobre meio ambiente. Passamos
quatro dias inteiros desenhando cartazes e bolando as falas, mas ficou bem
legal e engraçado, eles adoraram. No final da aula voltamos para casa
recolhendo o lixo no caminho. Foi bom para um primeiro contato com o assunto,
já que isso não é tão abordado.
No nosso último dia, ganhamos inúmeras flores e lenços para
o pescoço, o que é tradição. Todos os estudantes nos deram cartões e muitos
disseram neles que aprenderam a lição sobre o meio ambiente! Nós ficamos
felizes que pudemos contribuir um pouco. Só estamos tristes porque o tempo
passa rápido e nosso tempo na escola chegou ao fim. Vamos sentir saudades deste
lugar tão verde e puro e das pessoas tão simpáticas aqui presentes. Mas saímos
com o compromisso de um dia voltar, com nossos filhos!
Agora estamos na lista de espera para um trem para Nova
Delhi. Se conseguirmos seguiremos de lá direto para as montanhas do norte da
Índia, já que neste momento Delhi registra novos recordes de temperatura, 45
graus celsius! =)
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The arrival in India was hot! Even coming from hot places, the heat was
almost unbearable in Kolkata. We took a taxi and metro, both without air conditioning,
then a bike rickshaw (the only option) to Rohan’s house.
We met him through couchsurfing and staying at
his home with his family was an exceptional experience! It was the perfect
introduction to a country as unique as India. We really felt part of the family
during the five days we stayed there. How nice to have this kind of support
when you get to a new place! We feel very fortunate to meet people like Rohan
and his family.
We can’t say that India was not a big change,
especially coming from the calm Thailand. It's hard not to notice the endless
amount of people and the huge noise on the streets. That was really unlike
anything we've seen in our lives! We could walk with the camera on, because
every five minutes we saw something we had never seen before. Many cows, a
gathering of about 100 goats wandering the streets, people on the sidewalk
taking a bath or shaving. A little girl grabbed my hand one day and said:
“money, money!” I said, “I have no money!” She said “yes, have money! 500
rupees!” I just laughed. And people stare at you all the time, which, although
a little uncomfortable, is not done with bad intentions, it is only a habit,
after all we look different.
But criminality in the country is low compared
with many others, including Brazil. This makes us feel safe, which is great.
And whenever we needed some information or help, people helped us, without a
smile, but with real intentions to help. Rohan told us that one of the reasons
why you feel safe is actually the population size. If a crime happens, there's
always someone who will see it and people protect each other when needed. Also,
they are not afraid to start a fight, which can be good in those cases.
But after a few days we understood a little bit
more about what happens around us. By having a lot of people, sometimes you
need to secure your place. If you do not say anything, people will get in front
of you in queues in banks, restaurants and trains. We must be firm. In many
places this would be considered bad manners, but here this is just normal.
To escape the heat, we headed to the mountains
near the Himalayas. We stayed for five days in Darjeeling, a city surrounded by
mountains where you can see the third highest peak in the world. I only know
this because I was told, we were inside a cloud during the whole time there.
The sudden change in temperature (from 42 to 20 Celsius) made me very sick for
the first time in the last three years, so we didn’t do much
We went then to Begha, a small village where we’d
volunteer at the Sunrise Academy school for 20 days. To get there we took three different jeeps,
the entire trip took 9 hours, including 3 hours waiting. On arrival it was
dark, raining and we were very tired. That's when Gojen, the son of the family we
would stay with, led us through a 15 minutes track to the house. Some leeches
stuck on our clothes, but we finally arrived, soaked in a simple house. The
mother, Shandra, was cooking on a wood stove on the floor. The bathroom was outside
and squat style and we’d use a bucket to bath. Still wet and holding a leech
from outside my pants in one of my hands, I was a bit scared.
It took just a few hours to make me change my
mind completely. The simplicity, goodness and generosity of this family touched
deep in my heart. We woke up on a sunny day and with a tea in bed. The sun
passed through a small window and lit up our room. We changed clothes and, for
the first time, we could see where we were. The roosters crowed, the chicken walked
around the house with their baby chicks, the cows looked at us suspiciously and
the huge mountains around glowed with the first sunrays.
We then went to school for the first time on a
path through the mountains, about 20 minutes to descend and 50 to climb. Along
the way, the children followed the same path wearing their beautiful uniforms
and said "Good morning Miss, good morning Sir." Not only saying it,
but actually looking at us and waiting for a answer. Before the classes begin
they have an assembly, where children are lined up for the morning prayer and
sing the national anthem. Then the principal introduced us as the new
volunteers. After many curious looks, the students went row by row to the
classrooms.
When we walk into the classroom, all stand up
and shout " Good morning Miss, good morning Sir" and remain so until
we give permission to sit. Their ages range from 3 to 13 years, but their
behaviors remain the same. We presented ourselves in some classrooms and opened
to questions, which we answered in the coming few hours. They asked about everything,
the name of our parents, brothers and sisters, our age, curiosities about
Brazil and even if our relationship was arranged or “love marriage”! They wrote
down everything in a paper and asked us to sign it!
Classes go from 9:30 to 15:10, with half an hour
break for lunch, where children play, adults organize themselves for the next
classes and only we have lunch! They make lunch for us because they know that
we are used to it, but they only eat in the morning and late afternoon. We went
home surrounded by children singing and asking questions. I was hot from the
ascent, so it was a good time to wash my hair in the cold water tap, which is
on the ground next to our room. For dinner the family made a traditional dish
called “Momo”, a very tasty dumpling stuffed with cabbage, onions and ginger. There
was no electricity, so the candles’ light gave it a charming mood.
The next day the bucket bath seemed much easier
and the squat toilet was ok. And once again we find out that our needs are not
as big as we think. And how easily we get used to new situations. This is really
amazing!
In the state of Sikkim (where the community of
Begha is located) people have a great influence from Nepal. Even their
appearance is different from Indians. Although they learn English and Hindi when
very young, the language they speak at home is Nepali and their traditions and
dances are also mostly Nepalese.
We answered more questions of all kinds in the
coming days, which shows how much these children appreciate the different and
love learning new things! Everything we wear different, including simple
earrings and watches, they want to touch, smell! All we suggest in the
classroom and ask whether they like it or want it, they say, "yes, Miss,
yes Sir." I had some bird earrings made of wood that I gave to all girls
in one class, who hugged and kissed the birds for hours! Too bad it didn’t have
enough for all the girls in the school. We told that to our parents in Brazil
and the answers we received were the same: "poor girls". But here we
see how this behavior is fascinating. These 12 years old girls love wood birds!
This is beautiful! They are not “poor girls”, but lucky to still value these
things. They love the birds made of wood, but do not need them! They have
everything they need, education, food, parents who love them, an entire
mountain full of trees to play and an innocence that is priceless! They are
very polite and very happy! This is a lesson for us!
Sikkim is a protected area, so any kind of
chemical is banned, which means that all production is organic. Here in Begha
they grow what they eat and have no refrigerator, so everything is really fresh,
they eat what is in the season! How awesome is that? For them it's just normal.
The food is mostly vegetarian and always
delicious! One day we bought a pack of local beer, as the family we are living with
enjoy it. They considered it a special occasion and killed a chicken, in the
shower! The dinner was delicious! We are both enjoying staying here that
neither can remember why we were scared in the beginning!
We have received numerous drawings and flowers from
the students during the period we were here. One of them even wrote a simple
tale about Pedro and I. That was funny.
As we noticed the path that leads us to the
school was very dirty, we organized a puppet play about the environment. We
spent four whole days designing posters and plotting the lines, but it was very
cool and funny, they loved it. At the end of the day we went home collecting rubbish
along the way. It was a good first contact with the subject.
On our last day, we received many flowers and scarfs,
which is a tradition. All students made us cards in which many said they
learned the lesson about the environment! We were happy we could help a little.
We're just sad because time passes quickly and our time at school ended. We
will miss this so green and pure place and the nice people here. But we left
with a commitment to return one day, with our children!
Now we are on the waiting list for a train to
New Delhi. If we can get it we’ll follow from there straight to the mountains
of northwestern India, since New Delhi has been getting temperature records of
45 degrees Celsius! =)
Feijoada com a família do Rohan Black beans with Rohan's family |
Um monte de bode / Lots of goats |
Trem cheio / Busy train |
Chegando em Darjeeling / Arriving in Darjeeling |
Linda manhã em Begha Beautiful morning in Begha |
Reza da manhã / Morning prayer |
Pedro cozinhando feijão Pedro cooking black beans |
Lindos alunos / Beautiful students |
Lavando o cabelo / Washing my hair |
As meninas me vestiram de nepalesa Girls dressed me like Nepali |
O assustador fantoche que fiz The scary puppet I made |
Cartazes para os fantoches Signs for the puppet show |
Classe 3 com caras engraçadas Class 3 with fanny faces |
Mais caras engraçadas More funny faces |
Os cartazes e os lenços de despedida The good bye notes and scarves |